Caldeirão

08-03-2014 18:40

 

Foi um dia  mágico.

E eu podia deixar nada transcrito,
pra não desfazer o encantamento,
mas não consigo.
 
Nem consigo dormir de excitação.
Tudo começou no dia anterior:
Aquele caldeirão enorme, que fui buscar de metrô lá no Guará,
numa aventura que dividi com Celina,
quase como se fosse um segredo:
A bilheteria do metrô não aceita débito.
Que descrédito!
Que digo à minha filha que escolheu, sem pestanejar, ir de metrô pra Feira do Guará?
 
Depois de uma boa andada e o dinheiro na mão,
seguimos pro metrô.
a estação era quase só nossa.
Celina foi espiar onde passa o trem
e quase me mata de susto.
Agarrei sua mão com medo que me fugisse aquele momento.
Voltamos pra casa com uma panela grande, pra muita gente.
E aquela sensação de que fizemos uma coisa só nossa,
que vamos guardar na memória, 
naquele compartimento secreto onde ficam as coisas momentâneas e importantes.
 
Quê mais?
O dia de hoje. 
Que começou cedo com muita cebola picada e alho ralado,
pra encher a panela de coisas mágicas, cheias de significado.
Poesias escritas à mão,
desenhos criativos espalhados pela sala.
Duas moças quase iguais 
[até na voz],
recitando meus poemas em dó menor.
Menor, não, MAIOR.
Maior é o coração dessas lindas mulheres ao redor da fogueira.
E aquela que escolheu a poesia das coisas distraídas?
Achou a que mexeu com seu espírito em busca constante
em direção ao valor que as coisas importantes têm.
 
Quê mais?
Eu disse que foi mágico. Porque foi mesmo.
Minha mãe achando tudo lindo. Querendo ver tudo, sentir tudo com todas as cores, cheiros e sabores.
Eu queria que tudo coubesse numa foto.
Até os recados de quem não pôde vir e
as músicas que tocavam distraidamente, se a gente notasse ou não.
Foi um dia mágico e se eu não escrevesse algo a respeito,
talvez, qualquer dia, achasse que foi só uma feijoada,
nada de mais...