Faltou assinar
Era um sonho.
Do tipo nublado.
Com as coisas meio cinza.
Tudo misturado.
Ela encontrou um bilhete.
Nada assinado.
Leu 1957 vezes, assim contadas.
Como não sabia a quem responder,
redigiu uma dezena de respostas,
sem destinatário.
Espalhou as cartas onde pôde:
na grande árvore da praça,
embaixo do tapete da sala,
na lixeira da rua,
no pneu do carro ao lado.
Até deixou uma pista na mesa do canto esquerdo,
daquele café simpático:
“Se você encontrar esta,
e for, exatamente, quem eu penso que você é,
faça o favor de seguir esses passos:
Ande até a próxima rua,
à direita deste café.
Você vai encontrar pessoas andando,
de um lado para o outro.
Centenas delas.
Siga em direção à banca de revistas,
Leia as últimas notícias.
Não se impressione.
Peça um picolé de coco,
Costuma ser bom.
Atravesse a praça.
Cuidado com o chão.
Se choveu, pode estar molhado.
Jogue o palitinho do picolé no lixo.
Deve haver lixeiras espalhadas, ao longo da praça.
Observe os jovens andando de skate.
Eles às vezes desviam dos pedestres.
São ousados. Tomam conta de tudo.
Mas dão um ar esportivo ao local.
Continue andando.
Se for fim do dia, e o sol estiver se pondo,
Você terá uma linda vista,
de cartão postal.
Dê uma paradinha, como se fosse fotografar.
Deixe seus olhos se assombrarem, vendo tudo de uma outra forma.
Olhe o infinito,
Daquela avenida esplanada.
E volte para cá,
pra esse lugar onde essa carta foi encontrada.
Imagine que andei por esses mesmos lugares, nos últimos dias.
E que meus olhos curiosos andaram te procurando,
Mesmo sem resposta”.