Para Rosa Guimarães

01-04-2014 23:37

 

Nunca vou escrever como você.

Que seja dito!

Você está anos luz 

depois de mim.

E eu fico contente,

satisfeitíssima de, mesmo assim, poder te ler.

 

Imagina que bastariam trinta e oito passos (lentos) até você.

É um labirinto,

mas não é tão difícil de percorrer.

E a gente pode passar meio século sem nem se ver.

 

Procurei fazer um poema,cheio de sentimento,

a matéria prima que procuramos,

de que dispomos, 

que insistimos em achar em tudo que lemos.

 

Busquei palavras criativas, inventadas mesmo.

Cantei antes pra mim mesma,

pra ver se faziam sentido.

Li os avisos no seu livro,

os sinais a partir dos quais a gente encontra os caminhos.

Avistei o porto de onde você pode ver as coisas que vê.

Mas foi de longe. Só de longe.

 

Aceitei aqueles mistérios que fazem do escrito o não dito sempre.

E rejeitei o convite de não escrever.

Não escrever por quê?

 

Se não houver qualquer motivo,

assim concreto,

invento, abstratamente, um mote.

Encontro um motivo.

Porque se eu não digo, fica apertado em mim.

Você é Rosa,

Rosa Guimarães.

Se eu soubesse escrever isso em outra língua, na língua dos mistérios,

assim o faria.

Mas só falo desse jeito, com todas as letras traduzidas.

E isso não é de todo ruim.