sem identidade

Nada secreto,

tudo exposto,

um livro na cara, puro trocadilho.

ninguem vai entender,

tô nem aí.

escrevo é pra mim mesma e

meu coração borbulhante.

Mentira!

Escrevo pra você, meu leitor sem face,

sem identidade.

Escrevo porque quero saber o que você comeu no café da manhã

e o que vai fazer ao meio dia

em ponto.

E se eu não escrever?

faz mal, não.

Vou passar uma vassoura na casa,

ler Balzac, ouvir Elza Soares, cozinhar o peixe adormecido no gelo,

ligar a televisão, desligar a televisão,

dizer alguma coisa ao telefone,

tomar um café, esperar que não esteja forte

e nem fraco demais.

E lá fora as coisas vão ficar como estão.

O pessoal do futebol vai gritar muito na janela,

hoje é dia de jogo.