Teste de 24/03/2011
Depois de tanto tempo e alguns poucos votos (hehehehe), trago a resposta ao teste do Poesiômetro de 24 de março.
À colaboradora (ou colaborador, obviamente) que votou em Clarice, parabéns!
Nesse texto, a autora faz as vezes do narrador (e escritor) da história de Macabéa, nossa heroína em "A Hora da Estrela".
Não farei apresentações ao texto, uma vez que muita gente deve tê-lo feito e também porque não me encontro à altura da Clarice, talvez nem para comentá-la. Só quero dizer que esse pequeno trecho de Clarice consegue revelar pelo menos uma coisa do seu jeito próprio de escrever: ela expressa o que se passa dentro de quem escreve, como se isso fosse só uma introdução, ou só pano de fundo, quando, na verdade, é parte mesmo da história.
As coisas que escreve sobre quem nos conta a história de Macabéa são, no fim das contas, uma estratégia de marcar, com subjetividade e poesia, o relato da vida daquela personagem.
A todos os que participaram da votação e mesmo aos que não participaram, mas passaram as vistas por aqui, muito obrigada. Fica meu recado pra quem não leu "A hora da estrela": nunca é tarde demais!
"... E a pergunta é: como escrevo? Verifico que escrevo de ouvido assim como aprendi inglês e francês de ouvido. Antecedentes meus de escrever? Sou um homem que tem mais dinheiro do que os que passam fome, o que faz de mim de algum modo um desonesto. E só minto na hora exata da mentira. Mas quando escrevo não minto. Que mais? Sim, não tenho classe social, marginalizado que sou. A classe alta me tem como um monstro esquisito, a média com desconfiança de que eu possa desequilibrá-la, a classe baixa nunca vem a mim.
Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados.
Ah que medo de começar e ainda nem sequer sei o nome da moça. Sem falar que a história me desespera por ser simples demais. O que me proponho a contar parece fácil e à mão de todos. Mas a sua elaboração é muito difícil. Pois tenho que tornar nítido o que está quase apagado e que mal vejo. Com mãos de dedos duros enlameados apalpar o invisível na própria lama.