Teste de 28 de dezembro de 2011

16-01-2012 14:14

 

Não vou arriscar falando muito sobre a Lygia. "As meninas" foi o primeiro e único livro que li de sua autoria (pasmem!). Mas sei, dos tempos de escola, que ela é dos principais nomes da nossa literatura.

 

Neste livro, ela conta a história de três moças que moram num pensionato, nos tempos da ditadura militar no Brasil. Cada uma das moças tem a oportunidade de falar sobre si mesma e a autora passeia muito desembaraçadamente entre as três, muitas vezes sem aviso prévio. É uma delícia ter que voltar algumas linhas, de vez em quando, pra ter certeza de que agora ela está na pele de uma ou de outra.

 

As três são muito diferentes, mas sua condição de moças num pensionato, talvez (e só talvez) lhes garanta alguma identidade. Além disso, o fato de se conhecerem e se gostarem cria o ambiente de aproximação que rompe com aquilo que as torna tão diferentes.

 

No trecho do Poesiômetro, Lorena conta como seu gato a abandonou. Linda, de todas as moças, talvez seja a mais doce e a mais confusa. Lorena vive à espera de um telefonema do homem pelo qual está apaixonada. Ele nunca liga e ela se protege de toda frustração, presa em sua concha - o seu quarto no pensionato. Sua concha é um ponto de encontro importante no livro. O espaço onde coisas importantes das três personagens acontecem. Um cantinho alheio à realidade borbulhante que toma a vida das meninas lá fora e da qual Lorena perece estar a quilômetros de distância.

 

Tem mais coisas, é claro. Sempre tem. Pra cada uma delas, cabe uma novela. Talvez o melhor de tudo nesse livro seja o jeito arrepiante e profundo que a Lygia tem de escrever...

 

Obrigada a todo mundo que contribuiu. Dessa vez, eu nem precisei votar! Adoraria que se identificassem. Um beijo.

 

 

 

"Aperto a barriga do Pato Donald, presente de Fabrizio. Coem! Coem! Beijo-lhe o bico. Meu pobre cachorrão estabanado, penso abraçada ao pato, fica fiel e me guarda como aquele cachorro do anúncio (policial?) guarda o cofre. Antes de Astronauta eu preferia cachorro mas descobri agora, se cachorro me comove o gato me fascina. Não, minha poeta, não é a morte que é limpa mas cruel, é o gato. Eu voltava do cinema com a Aninha (sóbria) quando vi aquele gatinho mijado abandonado na esquina. Fiz mamadeira de um vidrinho de remédio que Irmã Bula trouxe, dormiu no meu pulôver de cashemere, fez pipi e et cetera no meu bidê até aprender a fazer no jardim, entrou na cama comigo mas pensa que ficou um gato sentimental? deixa-me rir. Passava o dia na almofada ou dormindo ou me olhando sem muito interesse. Nem agrados, nem concessões: um egípcio. Entrou na minha concha, mas não entrei na dele. Um dia, sem uma palavra, sem um gesto saiu por aquela porta e não voltou mais...".


As Meninas. Lygia Fagundes Telles.