Trilogia do amor feminino

30-01-2014 21:31

 

I - Cautela

 

Devo começar com cuidado.

Nada de adivinhações e análises que generalizam.

Homens, desse jeito.

Mulheres, desse outro.

Já se falou tanto da falta de camaradagem feminina.

Na mesma medida em que se diz que os homens são leais.

Acobertando falhas e reproduzindo velhos acordos.

 

Minha cautela quer dizer de quando as mulheres são parceiras.

E, ainda que sintam o velho veneno da inveja,

fruto da comparação,

são mortalmente adocicadas,

(Muitas vezes).

Dizendo coisas generosas,

essencialmente generosas,

umas às outras.

 

O amor nasce no meio delas.

E, em nenhuma outra relação,

vão encontrar essa sensação.

Alimentam aquilo que têm de mais feminino,

dentro de si.

Sem querer usar o "nunca" e o "sempre"

e fechar todas as portas das possibilidades,

eu aceito que não dá pra viver a especificidade de ser mulher,

sem reconhecer outras mulheres

como amigas.

 

 

II - à doce Maria

 

Eu era pequena e ela ainda menor.

Dividíamos o lanche e nossas histórias.

Ela escrevia nomes próprios com letra minúscula.

Eu sempre fui obediente e seguia as regras à risca.

Dei umas dicas e ela entrou no jeito.

Hoje me pergunto: pra ques servem letras maiúsculas nos nomes próprios?

Assim, pra ajudar a gente a dar conta do recado da vida?

(Quase nada!).

 

Ela se foi

e levou minha chance de me sentir outra 

outra menina,

me enxergar em seu espelho,

encontrar nossas diferenças,

desenhar minha própria identidade.

 

Eu ainda acho que pulei um pedaço,

sem Maria.

Mas nunca vou saber se é verdade mesmo.

Ou é só orgulho de dizer que ninguém chegou tão perto de mim

quanto ela.

 

 

III - Quando quatro pode ser um

 

Cada uma de um jeito.

Todas orgulhosas de si.

Do que já conseguiram até aqui.

 

Sempre curiosas sobre os segredos uma da outra.

Como se quisessem aprender como se fez aquela outra pessoa ali.

Isso é o melhor!

Fazer da outra um quebra-cabeças.

A quem a gente pode tentar montar.

 

Será que elas são sempre assim, desse jeito?

Ou só quando estão juntas e formam um?

 

Porque escrevi esse poema cheio de emoção,

queria poder dar alguma coisa:

Tiraria todos os roxos da Nayara,

a intolerância à lactose da Jurana,

e enxugaria todas as lágrimas da Sâmella, enquanto assiste a "O Homem Elefante".

Muito amor...